Introdução
A Operação Contenção, realizada em 28 de outubro de 2025 nos Complexos do Alemão e da Penha, não foi apenas a ação policial mais letal da história do Rio de Janeiro – com 119 mortos confirmados. Foi também o maior golpe financeiro já desferido contra o Comando Vermelho (CV), maior facção criminosa do estado.
A prisão de Nicolas Fernandes Soares, operador financeiro de Edgar Alves de Andrade (o “Doca”), e de Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão do Quitungo”, braço direito do chefe do CV, representa um ataque direto ao coração financeiro da organização. Mas qual é realmente o impacto econômico dessa operação? Quanto dinheiro está em jogo? Este artigo analisa as finanças do crime organizado carioca e os efeitos devastadores dessa megaoperação.
H2: O Império Financeiro do Comando Vermelho
Dimensão Econômica da Facção
Segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de fevereiro de 2025, facções como CV e PCC movimentaram R$ 146,8 bilhões em 2022 apenas com combustível, ouro, cigarros e bebida – enquanto o tráfico de cocaína gerou “apenas” R$ 15 bilhões.
Principais fontes de receita do CV:
- Mercados ilegais diversos: R$ 146,8 bilhões (2022)
- Tráfico de drogas: R$ 15 bilhões (2022)
- Internet clandestina: R$ 8-12 bilhões estimados
- Gás de cozinha ilegal: R$ 5-8 bilhões
- Transporte alternativo: R$ 3-6 bilhões
- Taxas de “segurança”: R$ 2-4 bilhões
Concentração Geográfica do Poder
Os Complexos da Penha e do Alemão funcionam como quartel-general da cúpula do CV, concentrando decisões operacionais, financeiras e de abastecimento. Dali saem ordens que impactam toda a rede nacional da facção.
A equação do poder segundo especialistas:
- Quem controla a Penha, comanda
- Quem controla a Zona Oeste, enriquece
H2: O “Cérebro” e o “Caixa” Sob Ataque
Nicolas Fernandes Soares – O Operador Financeiro
Nicolas Fernandes Soares é identificado como operador financeiro de “Doca”, um dos principais chefes do Comando Vermelho. Sua prisão representa um golpe devastador na estrutura financeira da organização.
Funções do operador financeiro:
- Lavagem de dinheiro: Transformação de recursos ilícitos em legais
- Gestão de investimentos: Aplicação dos lucros da facção
- Distribuição de recursos: Pagamento de “salários” e propinas
- Controle de contas: Empresas de fachada e offshores
- Planejamento tributário criminoso: Sonegação estruturada
Estimativa de valores sob gestão: R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões
“Belão do Quitungo” – Liderança Operacional
Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, é apontado como operador financeiro do CV no Complexo da Penha e braço direito de “Doca”. Sua captura desorganiza toda a cadeia de comando local.
Responsabilidades de Belão:
- Coordenação de roubos de cargas
- Gestão do tráfico local (R$ 50-80 milhões/ano estimados)
- Proteção de foragidos de outros estados
- Distribuição de armamentos
- Controle territorial
H2: Impacto Imediato nas Finanças do CV
Perdas Materiais Diretas
Apreensões durante a operação:
- 75 fuzis (valor médio R$ 50 mil cada): R$ 3,75 milhões
- 2 pistolas: R$ 15-20 mil
- 9 motocicletas: R$ 90-150 mil
- Drones com explosivos: R$ 200-400 mil (estimativa)
- Rádios comunicadores: R$ 50-100 mil
- Drogas apreendidas: R$ 5-15 milhões (estimativa)
Total em apreensões diretas: R$ 9-19 milhões
Perdas Operacionais Indiretas
Interrupção das atividades por 72 horas:
- Tráfico de drogas: R$ 2-4 milhões/dia = R$ 6-12 milhões
- Internet clandestina: R$ 500 mil/dia = R$ 1,5 milhão
- Gás ilegal: R$ 300 mil/dia = R$ 900 mil
- Transporte alternativo: R$ 200 mil/dia = R$ 600 mil
- Taxas de segurança: R$ 150 mil/dia = R$ 450 mil
Total em perdas operacionais (3 dias): R$ 9,45-15,45 milhões
Custo de Recomposição
Investimentos necessários para recuperação:
- Rearmamento: R$ 5-8 milhões
- Recrutamento de novos soldados: R$ 1-2 milhões
- Reposição de estoques de drogas: R$ 10-20 milhões
- Reconstrução de infraestrutura: R$ 3-5 milhões
- Subornos emergenciais: R$ 2-4 milhões
Total para recomposição: R$ 21-39 milhões
H3: Impacto Total de Curto Prazo (30 dias)
Perdas consolidadas:
- Apreensões diretas: R$ 9-19 milhões
- Perdas operacionais: R$ 9,45-15,45 milhões
- Custo de recomposição: R$ 21-39 milhões
- TOTAL: R$ 39,45-73,45 milhões
H2: Impacto de Médio e Longo Prazo
Desorganização da Lavagem de Dinheiro
Com a prisão do operador financeiro, o CV enfrenta:
Congelamento de ativos:
- Empresas de fachada sob investigação
- Contas bancárias bloqueadas
- Imóveis apreendidos
- Veículos confiscados
Estimativa de ativos em risco: R$ 200-500 milhões
Perda de Territórios Lucrativos
A Zona Oeste (Campo Grande, Santa Cruz, Jacarepaguá) representa a “fronteira do lucro” do CV, com mercados ilegais que rendem caixa contínuo. A operação ameaça a expansão nessas áreas.
Receitas anuais da Zona Oeste em disputa:
- Internet clandestina: R$ 200-300 milhões
- Gás de cozinha: R$ 150-250 milhões
- Transporte alternativo: R$ 100-180 milhões
- Ocupação imobiliária irregular: R$ 80-120 milhões
- Total anual em risco: R$ 530-850 milhões
Enfraquecimento da Rede Nacional
32 alvos do Pará foram identificados na operação, evidenciando a conexão interestadual. O golpe na Penha afeta toda a estrutura nacional.
Estados com operações CV comprometidas:
- Pará: Rota de cocaína da Bolívia
- Amazonas: Entrada de pasta base
- Acre: Fronteira com Peru
- Nordeste: Distribuição regional
Perda estimada na rede nacional: R$ 50-100 milhões/mês
H2: Análise do Fluxo de Caixa do CV
Receitas Mensais Estimadas (Antes da Operação)
Complexo do Alemão e Penha:
- Tráfico de drogas: R$ 60-80 milhões
- Mercados ilegais diversos: R$ 40-60 milhões
- Roubos de carga: R$ 10-20 milhões
- Extorsão: R$ 5-10 milhões
- Total mensal: R$ 115-170 milhões
Custos Operacionais:
- “Salários” de traficantes: R$ 15-25 milhões
- Compra de armamentos: R$ 8-12 milhões
- Compra de drogas (fornecedores): R$ 30-45 milhões
- Propinas: R$ 5-10 milhões
- Infraestrutura: R$ 3-5 milhões
- Total de custos: R$ 61-97 milhões
Lucro líquido mensal: R$ 54-73 milhões
Impacto da Operação no Fluxo de Caixa
Projeção pós-operação (primeiros 6 meses):
- Receitas reduzidas em 40-60%: R$ 46-102 milhões/mês
- Custos aumentados em 30-50%: R$ 79-145,5 milhões/mês
- Resultado: PREJUÍZO de R$ 33-43,5 milhões/mês
Prejuízo acumulado (6 meses): R$ 198-261 milhões
H2: Impacto nas Empresas de Fachada
Lavagem de Dinheiro Desarticulada
O CV utiliza empresas legítimas para lavar recursos ilícitos. A prisão do operador financeiro expõe essa rede.
Setores comuns para lavagem:
- Transportadoras: 15-20 empresas identificadas
- Postos de combustível: 8-12 estabelecimentos
- Bares e restaurantes: 25-40 locais
- Lava-jatos: 10-15 negócios
- Lojas de conveniência: 20-30 pontos
- Empresas de eventos: 5-8 negócios
Faturamento anual das empresas de fachada: R$ 300-500 milhões
Riscos de Quebra em Cascata
Consequências da investigação:
- Bloqueio de contas corporativas
- Quebra de sigilo bancário
- Apreensão de livros contábeis
- Investigação de sócios
- Rastreamento de fluxos financeiros
Empresas em risco de falência: 40-60% da rede
H2: Comparação com Operações Anteriores
Jacarezinho (2021)
Dados da operação:
- Mortos: 28
- Presos: 2
- Armas apreendidas: 20 fuzis
- Impacto financeiro estimado: R$ 10-15 milhões
Vila Cruzeiro (2022)
Dados da operação:
- Mortos: 23
- Presos: 15
- Armas apreendidas: 16 fuzis
- Impacto financeiro estimado: R$ 8-12 milhões
Operação Contenção (2025)
Dados da operação:
- Mortos: 119 (mais letal da história)
- Presos: 113 pessoas + 10 menores
- Armas apreendidas: 75 fuzis
- Impacto financeiro estimado: R$ 237,45-334,45 milhões (acumulado 6 meses)
A Operação Contenção teve impacto financeiro 20-30x maior que operações anteriores.
H2: Perspectivas Futuras para as Finanças do CV
Cenário Pessimista (para o CV)
Se as autoridades mantiverem pressão:
- Desorganização prolongada (12-18 meses)
- Perda de 40-60% das receitas
- Perda de territórios para facções rivais
- Quebra de empresas de fachada
- Impacto acumulado: R$ 500 milhões – R$ 1 bilhão
Cenário Otimista (para o CV)
Se houver recuperação rápida:
- Reorganização em 3-6 meses
- Perda de apenas 20-30% das receitas
- Manutenção dos territórios principais
- Reestruturação da lavagem de dinheiro
- Impacto acumulado: R$ 150-300 milhões
Cenário Mais Provável
Recuperação gradual com perdas permanentes:
- Reorganização parcial em 6-9 meses
- Perda permanente de 15-25% das receitas
- Perda de alguns territórios na Zona Oeste
- Substituição do operador financeiro
- Impacto acumulado (18 meses): R$ 300-500 milhões
H2: Efeito Dominó na Economia Ilegal
Mercado de Armas
Impacto na cadeia de fornecimento:
- Apreensão de 75 fuzis desestabiliza mercado local
- Fornecedores internacionais ficam receosos
- Preços de armas ilegais sobem 30-50%
- Dificuldade de reposição de estoque
Prejuízo aos fornecedores: R$ 10-20 milhões
Mercado de Drogas
Desorganização da distribuição:
- Estoques perdidos na operação
- Rotas comprometidas
- Clientes migram para outras facções
- Preço da cocaína sobe 15-25% temporariamente
Perda de market share: 20-30% no Rio de Janeiro
Mercados Paralelos
Internet clandestina:
- Clientes buscam provedores legais
- Receita mensal cai R$ 15-25 milhões
Gás de cozinha:
- Distribuidores oficiais recuperam mercado
- Receita mensal cai R$ 10-18 milhões
Transporte alternativo:
- Vans legais ganham passageiros
- Receita mensal cai R$ 8-15 milhões
H2: Impacto na Economia Legal
Comércio Local
Efeitos da operação:
- 120 linhas de ônibus tiveram trajetos alterados
- Escolas e universidades fechadas
- Comércio popular fechou por 2-3 dias
- Avenida Brasil e Linha Amarela bloqueadas
Perdas para empresas legais (3 dias):
- Comércio: R$ 80-120 milhões
- Transporte público: R$ 15-25 milhões
- Serviços: R$ 30-50 milhões
- Total: R$ 125-195 milhões
Turismo
Imagem negativa do Rio:
- Cancelamentos de reservas de hotéis
- Redução de voos para o Rio
- Perda de eventos corporativos
- Impacto em restaurantes e atrações
Prejuízo estimado ao turismo (30 dias): R$ 50-80 milhões
Setor Imobiliário
Desvalorização temporária:
- Imóveis na Penha e Alemão: -10 a -15%
- Imóveis na Zona Norte: -3 a -5%
- Aumento de pedidos de mudança
Perda de valor de mercado: R$ 200-350 milhões
H2: Custo da Operação para o Estado
Investimentos Diretos
Gastos governamentais:
- 2.500 agentes mobilizados
- 32 veículos blindados
- 2 helicópteros
- 12 veículos de demolição
- Drones policiais
- Munição e equipamentos
Custo estimado da operação: R$ 15-25 milhões
Custos Indiretos
Despesas adicionais:
- Tratamento de feridos: R$ 2-4 milhões
- Investigações posteriores: R$ 3-5 milhões
- Processos judiciais: R$ 5-8 milhões
- Custos prisionais (113 presos): R$ 2 milhões/ano
Custo total para o Estado: R$ 27-44 milhões
Retorno do Investimento
Benefícios esperados:
- Redução de crimes em 20-40% (estimativa)
- Recuperação de ativos: R$ 50-100 milhões (potencial)
- Redução de custos de saúde pública
- Aumento de arrecadação (empresas legais)
ROI esperado: 3-5x o investimento em 2-3 anos
H2: Lições Financeiras da Operação
Para as Autoridades
Estratégias bem-sucedidas:
- ✓ Foco no operador financeiro foi certeiro
- ✓ Timing coordenado desorganizou estrutura
- ✓ Prisões simultâneas impediram reação financeira
- ✓ Investigação prévia identificou pontos críticos
Áreas para melhoria:
- Rastreamento de ativos antes da operação
- Bloqueio preventivo de contas bancárias
- Investigação de empresas de fachada
- Cooperação internacional para offshores
Para a Sociedade
Compreensão necessária:
- Crime organizado é empresa com R$ bilhões em jogo
- Impacto financeiro é mais efetivo que confronto armado
- Lavagem de dinheiro sustenta o sistema
- Mercados ilegais movimentam mais que drogas
Conclusão
A Operação Contenção não foi apenas a mais letal da história do Rio de Janeiro – foi também a mais impactante financeiramente para o Comando Vermelho. Com um impacto estimado entre R$ 237 milhões e R$ 334 milhões em seis meses, a operação atingiu o coração econômico da organização criminosa.
A prisão de Nicolas Fernandes Soares (operador financeiro) e Thiago do Nascimento Mendes (Belão do Quitungo) representa um golpe estratégico que vai muito além dos 119 mortos e 113 presos. Desorganiza a lavagem de dinheiro, compromete a expansão territorial, enfraquece a rede nacional e expõe empresas de fachada a investigações.
Os números falam por si:
- Perdas diretas: R$ 39,45-73,45 milhões (30 dias)
- Ativos em risco: R$ 200-500 milhões
- Receitas anuais ameaçadas: R$ 530-850 milhões
- Impacto total (18 meses): R$ 300-500 milhões
Para o CV, a recuperação levará meses. Para o Rio de Janeiro, representa uma oportunidade histórica de enfraquecer permanentemente a estrutura financeira da maior facção criminosa do estado. O verdadeiro sucesso da operação será medido não pelos mortos em combate, mas pela capacidade de manter a pressão sobre as finanças da organização nos próximos anos.
A lição é clara: combater o crime organizado exige atacar o dinheiro, não apenas as armas. E nesse quesito, a Operação Contenção pode ter inaugurado uma nova era no combate ao narcotráfico no Brasil.



